Matéria publicada em 31 de maio de 2025.
Em um cenário de conexão entre arte, agroecologia e tradição quilombola, o Encontro Teia da Terra promoveu uma experiência única no Alto Jequitinhonha, levando o espetáculo Solo da cana para comunidades rurais que, em muitos casos, assistiam a uma peça pela primeira vez. A apresentação, remanescente do projeto Solo em Rede, do ano ado, reuniu agricultores das comunidades quilombolas do Baú, Ausente e Santa Cruz, além de crianças e parceiros locais, em uma apresentação ao ar livre que misturou performance, natureza e troca de saberes. E neste momento, é lançada a campanha de financiamento coletivo ,através do site da Saúva, para fortalecer ainda mais este coletivo, a comunidade quilombola e a população beneficiada do Serro/MG.

Arte que provoca e encanta
A atriz Izabel de Barros Stewart, que escreveu e atua no monólogo, encenou a peça em um espaço aberto, incorporando elementos da natureza — como o vento, a terra e até um gavião que sobrevoou o local — à sua performance. O texto, de caráter denso e poético, despertou curiosidade e reflexão no público.
No dia seguinte à apresentação, as agricultoras da comunidade do Baú buscaram conversar com Izabel, questionando sobre seu processo criativo: “Você não fica com o corpo dolorido no dia seguinte?”, “Como consegue decorar tudo aquilo e ficar uma hora falando?”. A corporalidade da atriz chamou atenção, especialmente de Heloísa, que ou a imitar alguns trejeitos da personagem.

“Muitas dessas pessoas nunca tinham assistido a um espetáculo teatral antes. Foi a primeira vez que tiveram contato com uma peça. Isso causou um certo estranhamento, porque não é um público “educado” para o teatro. Foi um presente que a gente conseguiu trazer junto com a Bel para essas agricultoras e agricultores”, comentou Ramoci Leuchtenberger, uma das gestoras do Teia da Tera. A peça, que já foi encenada em Teatros e outros espaços alternativos, como o Ateliê Dudude em Casa Branca, ganhou nova dimensão ao dialogar diretamente com a paisagem e o público rural quilombola.



Izabel Stewart falou de sua percepção sobre a apresentação do espetáculo: “Concluímos a última etapa do projeto Solo em Rede com um encontro muito especial promovido pela equipe do Teia da Terra. Essa foi uma oportunidade muito incrível de me aproximar, de conhecer, de trocar saberes, sabores, de eu poder alimentar o meu trabalho com o olhar dessas pessoas e poder também alimentar essas pessoas com o meu trabalho, com aquilo que eu sei fazer de melhor”.
“Eu acho que essa é uma das coisas mais valiosas que a gente tem nessa rede, que para além de iniciativas super inspiradoras, envolvendo pessoas criativas, competentes, enfim, a Saúva estimula os encontros. Ela fomenta a rede, as conexões. Eu acho que é isso que nos fortalece e que realmente viabiliza a continuidade dos projetos de todos que participam: os encontros.”
Izabel de Barros Stewart – Solo da Cana e Saúva
Campanha fortalece rede de apoio
Além da experiência artística, o encontro antecedeu o lançamento da campanha de sustentabilidade da Teia da Terra, que acaba de ser lançada. A campanha busca criar uma rede de apoio financeiro às comunidades quilombolas envolvidas e é inspirada no modelo CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura), vinculando doadores mensais a famílias em situação de vulnerabilidade. O objetivo é que as pessoas contribuam com a produção local e, se tiverem interesse, visitem e conheçam de perto as comunidades.


“Queremos que as pessoas saibam para quem estão doando e como estão ajudando”, explicou Ramoci Leuchtenberger. Atualmente, a rede inclui agricultores quilombolas, o CRAS da Prefeitura do Serro/MG, a Bem Cuidar (realizadora), o Bem Criar (logística) e o Fomento da Saúva.
Para ser um doador/colaborador da iniciativa Teia da Terra, e o link:
Produtos locais ganham mercado
As comunidades do Baú, Ausente e Santa Cruz já produzem alguns alimentos beneficiados como arroz, feijão, farinha, rapadura e mel, além dos hortifruti. Agora, com o apoio do projeto, esses produtos começam a ser comercializados para parceiros como o Instituto Ouro Verde. “A comunidade do Baú, que antes plantava apenas para subsistência, agora vê potencial para ampliar sua produção”, destacou Ramoci.
A semana anterior ao Encontro foi marcada por outras atividades, como a visita ao Instituto Ouro Verde e Instituto Cresce, em Nova Lima/MG, consolidando uma rede que une cultura, agroecologia e solidariedade. Para os organizadores, iniciativas como essa não só fortalecem a economia local, mas também reforçam os laços entre campo e cidade, arte e vida.


Desde 2022, a Teia da Terra tece conexões que transformam!
No coração do Serro (MG), a Teia da Terra fortalece a agricultura quilombola, unindo produtores e consumidores em uma rede de comida de verdade, justiça social e sustentabilidade. Até agora, já foram entregues 6.000 cestas agroecológicas, garantindo renda para 35 famílias e alimentos saudáveis para centenas de pessoas cadastradas no CRAS municipal.
Em 2025, o objetivo é ir ainda mais longe e distribuir mais 2.000 cestas de produtos frescos e sem agrotóxicos, ampliar o impacto na segurança alimentar e na economia local, e preservar saberes tradicionais e o meio ambiente. Sua doação faz a diferença! Com isso, é possível gerar trabalho e renda no campo, incentivar a agroecologia e alimentar vidas com dignidade.
Siga o Teia da Terra e Solo da Cana no Instagram, e assista o videoclipe deste encontro:
https://www.instagram.com/reel/DJaCyApphII/?igsh=dmEwNDNwbHBzdDU1